Pular para o conteúdo principal

Crônicas de Amor e de Aventuras em tempos de Pandemia

Tinham paquerado, literalmente, naqueles últimos seis meses. Encontravam -se sistematicamente. Sempre as terças e quintas à noite, depois do expediente. O local? Na mata de eucaliptos. E conversavam.

Falavam do trabalho, dos planos e projetos, das experiências na Amazônia, de Roraima. Dos filhos, das alegrias e das tristezas e decepções. Era um momento difícil, o governo era contra a política ambiental, tinham nomeado militares para os cargos e eles sentiam na pele a dor e a faca afiada contra  o meio ambiente.

As conversas tinham que ser presenciais, eles tinham medo de estarem grampeados e precisavam de toda forma estar escondidos pra poder falar. Sentiam-se perseguidos, coagidos e ali trocavam.

E assim nasceu uma amizade, sentados à quase quatro metros de distância, cada um com o seu cigarro delirando a revolução.

Ela sofria, seu atual parceiro demonstrava -se insensível à sua batalha. Bolsominion de carteirinha. E a conversa dele  parecia pequena perto do mundo dela. Terminou tudo, foram três longos meses sem sexo. Com o outro nada avançava, a não ser as conversas cada vez mais longas e a vontade de estar juntos que crescia a cada dia. 

O tempo passava a pandemia se agravava e eles se viram forçados a se distanciarem. Julho chegara e com ele o pico de pandemia, ela entraria de férias por um mês pois não aceitaram seu pedido de alteração.

E assim foi. Ela voltou com o Bolsominion. Não aguentava ficar sem sexo. Foi um mês muito proveitoso nesse sentido. No início acreditou que iriam ficar bem, pensou até em algo mais sério. Mas sucumbiu aos ideais e opiniões diversos.

Bem direta ela terminou tudo com uma mensagem no celular. Depois daquele último encontro sentia uma mistura de raiva e ojeriza. Era como se ela pudesse ver através das aparências e tudo aquilo ia contra os seus valores.

Dormiu. Nos sonhos vinham aquelas mensagens que ela tentava interpretar ao acordar. Naquela noite viu um homem. Não era possível enxergar o seu rosto apenas notava  que era mais jovem. Mas tinha algo que era impossível não ser notado. O caráter.

 Acordou. Tinha que se preparar para retornar ao trabalho. Viu no celular uma mensagem, um convite para um encontro no domingo. Seguramente respondeu: eu não vou. Ele quis conversar. Ela resolveu expor naquele momento toda a angústia que ia por dentro em forma de motivos para uma nova separação:

1) acho q vc continua casado

2) me incomoda o fato de vc morar com os seus pais, de usar o cartão de crédito do seu pai

3) não acho certo roubar planta de outras pessoas

4) me incomoda vc não saber escolher um vinho ou comprar o mais barato

5) muito difícil pra mim lidar com as nossas diferenças político ideológicas

Ele ficara sentido. Gostava dela. Desde a adolescência. Ela também, aliás ela que tinha procurado por ele a primeira vez. Arqueira de uma flecha só não exitava em ir atrás dos seus objetivos.

E então eles se encontraram novamente. Um mês depois. Estavam saudosos. Sentiram falta da amizade, das conversas, da companhia. Ela foi pronta para o ataque. De saias, longas. E botas. Iria seduzi ló. Ele era o homem do sonho, era dele o caráter que ela admirava. Não podia mais evitar.

Mais um mês se passou. Nesse tempo ela teve problemas. Seu ex e pai das pequenas sentia que ela estava feliz e se recusava a ajuda lá com as crianças para ela poder trabalhar. Contaria apenas com a diarista duas vezes por semana, não poderia encontrar-se  com ele após o expediente. Encontraram maneiras de se ver de todo modo.

 Agora seria no horário do almoço e quem teria problemas seria ele.

Certo que como pais e no caso dele, compromisso, pouco tempo eles tinham mas sempre davam um jeito.

E foi indo, aos poucos eles iam se aproximando também fisicamente. E a tensão sexual só crescia. De modo que sentar ao lado dele ficava mais difícil a cada dia.

E então quando não podia mais suportar ela o abraçou com um pedido de desculpas por quebrar o protocolo covid seguido de um não precisa se desculpar dele e um abraço retribuído.

Logo mais após muita conversa e muita dissimulação eles se beijaram. Podiam ter batido os dentes, podia ter sido ruim. Tudo seria mais fácil. Mas não foi. Foi um beijo longo, demorado, encaixado.

Um beijo há muito esperado.

A lua estaria cheia na outra semana e ela mostraria pra ele. Quantas luas já vimos juntos aqui ele questionaria reticente. Ele sempre tinha algo certeiro para falar. Mesmo que ela não gostasse e aquilo cortasse na carne. Só faria aumentar a admiração que tinha por ele.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Destino

Uma semana em maio perguntou ele, pensando se vale a pena ela respondeu.  Tinha conhecido outra pessoa. Feio mas bem dotado. E ela precisava transar.  Tinha se perdido desde que ele a deixara para seguir com a portuguesa. Ela mandava na vida dele. Percebeu quando ele largou tudo para morar em outro país conforme ela indicara.  Enquanto ela transava com outro despertava neste a mais profunda admiração. Declarações e lembranças recheadas de saudade só aumentavam nela a mágoa e o ressentimento: como pudera ele tê- la largado? Largado era o termo. Como um objeto que não tem mais uso e se deixa de lado.  E agora aquela proposta. Uma semana em maio.  Tinha consultado os astros e se deparou com uma lista de ex nos mapas registrados num site astrológico.  Estavam lá o Carlos, alcoólatra inveterado e perturbado, o Rafa, que rendeu bons momentos de prazer e simplicidade mas que não topara, assim como ele, assumir aquela relação, o Marcelo, meio maníaco por sexo anal e com problemas

MANOELA

E então ela sentou-se à mesa da sala. Pegou um bloco de papel A4 e a caneta que ali estava. Vermelha.  Enquanto o sol raiava ela escrevia.  Aguardaria o Beija Flor e repetiria na sua mente todas as cenas vividas. Relembraria de cada instante. Do antes, do durante e do depois, não necessariamente na mesma ordem. Escreveria enquanto sentia e, de certo modo, reviveria aquelas lembranças. Tudo que lembrava naquele instante estaria no antes. Um antes nem assim tão distante, no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha. Eles estavam lá há alguns dias quando ela recebeu aquela mensagem em sonho. Ela entrava numa loja, dessas com incensos, velas e artigos religiosos. Foi então que aquela Senhora apareceu. De saias longas, meio roliça, baixa e com um jeito escrachado. Olhou nos olhos dela e disse: Você quer conhecer a sua Iabá? A sua Iabá é linda!!! Eu vou te mostrar a sua Iabá mas para isso você terá que abandonar os iniciantes! Naquele momento sentiu um tontura, abaixou a a cabeça e viu